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Como recepcionar o seu bebê de forma humanizada

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Você já parou para imaginar o bebê dentro do ventre materno? Pois então imagine: escuro, quentinho, o som do coração da mamãe, a respiração dela, a voz acalentadora que vem de fora. Tudo muito acolhedor até… NASCER!

Habituado a viver num ambiente protegido, com uma temperatura amena e constante, o recém-nascido é empurrado para um mundo completamente hostil e frio. E como você imagina que seu bebê seja recebido?

Na maioria das vezes, tanto em parto natural ou cesariana, quando os bebês nascem, às vezes são mostrados rapidamente para as mães, e são levados para os “primeiros cuidados” antes de voltarem, enrolados em panos, para suas mães.

Mas será que esses “primeiros cuidados” são realmente necessários ou tão urgentes?

Vamos começar pelo corte do cordão umbilical.

Depois que o bebê nasce o cordão não deve ser cortado antes de parar de pulsar, já falamos disso aqui. O sangue que está lá dentro pertence ao bebê. Aquele sangue é cheio de células T e hemoglobina, sendo muito importante para o primeiro ano de vida. O ideal é que o cordão ligado o quanto for necessário. Pode deixar até a placenta sair, se for o caso. Não precisa de pressa para cortar o cordão. O bebê não perde sangue por ali, ele só ganha.

A chamada hora de ouro é a primeira hora de vida do bebê, um momento de fundamental importância. É hora de estar em contato pele a pele com a mãe. A mudança do ambiente intrauterino para o ambiente frio e seco do lado de fora facilita a perda de calor, o que consome muita energia do bebê. O contato pele a pele imediato favorece a manutenção da temperatura corporal do recém-nascido, melhora a relação de vínculo e apego entre mãe e filho e facilita na estabilização cardiorrespiratória.

Durante esse período a mãe produz ocitocina em grande quantidade, ajudando na produção e ejeção do colostro, como também ajuda o útero a se contrair e evitar a hemorragia pós-parto. É comum nesse tempo que o bebê comece a fazer movimentos com a boca e a língua, procurando mamar.

Segundo o Manual do Ministério da Saúde, sempre que as condições da mãe e do RN permitirem, o primeiro contato pele a pele deve ser feito imediatamente após o parto.

Você já deve ter visto ou ouvido de alguma mãe que pingaram um colírio no seu bebê, né? Então, o uso do colírio de Nitrato de Prata foi introduzido em 1881, para o controle da oftalmia gonocócica do recém-nascido (uma espécie de conjuntivite bastante grave, que é contraída no momento do nascimento, a partir do contato com secreções genitais maternas contaminadas com a bactéria). Deveria ser usado quando o parto fosse vaginal e a mãe portadora de doença sexualmente transmissível (Gonococos) mas é rotina dos hospitais seu uso sem critério, inclusive em bebês nascidos de cesárea, ou seja, totalmente desnecessário.

Pode-se retardar o uso da medicação por até uma hora (não mais que isso), para evitar atrapalhar o contato visual entre mãe e filho na sala de parto, já que o nitrato de prata pode diminuir a abertura dos olhos e inibir a resposta visual.

Mas vale ressaltar que o colírio arde, dói e tem um de seus efeitos colaterais a conjuntivite química.

A administração de vitamina K nos recém-nascidos previne a doença hemorrágica do recém-nascido e é indicada pra todas as crianças, pois as consequências desta hemorragia podem ser graves.

A administração de Vitamina K costuma ser realizada nos hospitais através de uma injeção intramuscular na coxa do RN. Apesar de eficaz, esse procedimento é invasivo e muito doloroso. E tão eficaz quanto, é a vitamina K via oral, em doses repetidas (no dia do nascimento, e após 1 ou 2 semanas de vida). Bebês saudáveis e sem nenhuma complicação podem receber a vitamina K via oral, uma opção bem mais tranquila.

Outro ponto divergente é que as evidências apontam que o bebê não é beneficiado com banho nas primeiras horas de vida.

Quando nasce, a pele do bebê está revestida por uma camada de gordura chamada vernix. Após o nascimento, o vernix atua como uma camada isoladora ajudando o recém-nascido a lidar com a descida brusca de temperatura e como um agente protetor contra infeções ligeiras durante os primeiros dias de vida. Essa gordurinha que protege e hidrata a pele do bebê tem cheiro característico, grande responsável pelos mecanismos mais primitivos de vínculo entre mãe e filho.

O vernix pode estar presente sob a forma de uma camada muito fina ou muito espessa e que normalmente desaparece sozinho em torno de 24 horas. Exceto em situações específicas, ele não deve ser retirado.

Segundo as Diretrizes da Organização Mundial de Saúde para os cuidados com o recém-nascido, o vernix não deve ser removido imediatamente e banho deve ser adiado por pelo menos seis horas após o nascimento.

Pesar, medir, dar banho, tudo isso pode e deve esperar. Lugar de bebê que nasce bem é no colo da mãe. Sem interferências na primeira hora de vida.

Infelizmente nem todos os hospitais praticam a atenção ao recém nascido de acordo com as evidências cientificas e nem toda rotina é totalmente benéfica tanto para a mãe quanto para o recém nascido.